domingo, 30 de dezembro de 2018

É hora da matrícula, e agora?

Chegou aquela época do ano em que muitos pais se deparam com uma situação alarmante: onde matricular meu filho (a) autista. Para a maioria esse é um tema desesperador, de tirar o sono, já que o que mais desejamos é ver nossos filhos bem adaptados, recebendo ensinamentos, socializando e tendo o devido respeito.

O problema, para quem tem filhos com alguma necessidade, (não precisa ser somente a do Autismo), é que a tal "inclusão" só existe nas planilhas. Na prática esse cenário é sombrio e desolador. Vou explicar aqui o porquê.

Calma, não é necessário entrar em pânico uma vez que juntos somos mais fortes e temos todos os instrumentos para modificar esse cenário!

Meu filho, hoje com 12 anos, passou por diversas escolas (cerca de 6) e posso afirmar aqui que ele foi muito bem recebido por praticamente todas. Mas alguns fatos desagradáveis nos acompanharam nessa jornada. Por questões éticas não mencionarei os nomes das escolas.

A primeira escolinha era da Educação Infantil aos Primeiros Anos do Ensino Fundamental. Era uma gracinha, super organizada e com educadoras prestativas, funcionários educados e um clima bem familiar. Só que nessa faixa etária, (2 anos de idade), meu filho apresentava sinais muito leves de autismo, que foram ignorados pelos profissionais de Educação que o acompanhavam.

A segunda escola, também de Educação Infantil e anos iniciais do Fundamental, apresentou um olhar mais atento. Meu filho estava então com 3 para 4 anos e eles tentaram intermediar esse processo da descoberta do diagnóstico. O problema nesse momento foi que nós, os próprios pais, negamos a existência que qualquer "problema" e fizemos vista grossa por mais alguns meses, até que, finalmente em 2011, aos quase 5 anos de idade e com profissionais capacitados, conseguimos unir forças entre família, escola, neuropediatra e psicopedagoga para montarmos o programa terapêutico ideal para nosso filho. A partir daí foi só evolução. Na linguagem, na escrita, no desenvolvimento psicomotor, na interação social, na alimentação, entre outras esferas.

Alguns anos depois, já aos 8 anos, ele precisou trocar de escola. A instituição nos recebeu muito bem, de braços abertos, mas era uma instituição que passava por dificuldades financeiras e precisava aumenta a captação de alunos novos. Resultado: regressão total. Meu filho não aprendeu quase nada, socializou menos ainda e ficou agressivo, pois as pessoas não o compreendiam. Os cadernos vinham com operações matemáticas convencionais sem estarem resolvidas, textos quilométricos sem interpretação e outras tantas coisas sem sentido, abordadas de maneira aleatória. Ele ficava nervoso diariamente e gritava muito. Chegou a quase derrubar uma TV de 50 polegadas. Foi aí que a escola teve a "brilhante" ideia de que ele frequentasse as aulas somente 2x por semana. Eu, como especialista na área, aceitei passivamente por entender que a escola não tinha a menor condição de receber meu filho e os filhos de tantas outras mães e tudo que eu mais queria era que aquele ano terminasse para que eu o tirasse de lá e não recomendasse a escola nem para autistas nem para qualquer outra criança.

Bom, ha 3 anos meu filho está em uma escola onde se adaptou muito bem.Entretanto, deixa a desejar em alguns quesitos. Como sou o que chamamos de 'professora de área' (Língua Inglesa) sei como é a transição do Fundamental I para o Fundamental II no que diz respeito ao número exacerbado de disciplinas, conteúdos, livros, trabalhos, etc. Meu filho e outras tantas crianças não acompanham a rotina escolar dessa maneira. Eles precisam estar ao ar livre, experimentar coisas palpáveis em laboratório e ter alguém que explique numa velocidade reduzida para que possa haver compreensão e principalmente paciência e amor. A transição para o Fundamental II não foi positiva, uma vez que meu filho apresentou diversos episódios de agressividade, descontrole e até por que não dizer regressão cognitiva. 

E quando as instituições colocam a culpa na medicação? Ahhh sim, isso existe. Já ouvi demais essa pergunta: "Mãezinha, ele tomou a medicação hoje?"

Vale deixar registrado também que além de mãe ocupo o outro lado da situação. Durante minha trajetória profissional com docente em instituições de ensino presenciei até Coordenadoras Pedagógicas desdenhando de laudos médicos. Ora, se a pessoa que "encabeça" a lista de Educadores e de pessoas com qualificação adequada, que pode e deveria prestar um suporte profissional, se essa pessoa age de tal forma, como você espera que os demais funcionários atuem? Como você espera que estagiários de Pedagogia, por exemplo, que estão "treinando" na escola aprendam a tratar um portador de necessidades especiais? Como você espera que crianças com Transtornos Globais de Desenvolvimento possam ser inserido no mundo dos esportes, nas artes ou até mesmo no bilinguismo? Por acaso esses profissionais que deveriam encorajar a equipe e mostrar o jeito humano de se trabalhar pensam que estão fazendo algum tipo de favor à comunidade autista?

Deixo aqui uma outra pergunta: quando vocês vão visitar escolas regulares para seus filhos, o que mais se ouve do funcionário da secretaria? 

"Não, mãezinha, não temos mais vagas para alunos especiais, infelizmente."

Ué, mas e a lei brasileira de Inclusão? 
(Art. 1o É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Parágrafo único.)

E no que diz respeito a  Lei nº 12.764, que institui a "Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista" sancionada em dezembro de 2012?

Falando especificamente de Educação, a lei é vista por especialistas como mais um reforço na luta pela inclusão. O texto estabelece que o autista tem direito de estudar em escolas regulares, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Profissionalizante, e, se preciso, pode solicitar um acompanhante especializado. Ficam definidas, também, sanções aos gestores que negarem a matrícula a estudantes com deficiência. A punição será de três a 20 salários mínimos e, em caso de reincidência, levará à perda do cargo. "Recusar a matrícula já é algo proibido por lei, a medida reforça isso e estabelece a punição", comenta Mara Gabrilli (PSDB - SP)

Por isso mencionei anteriormente que juntos podemos fazer a diferença. Se permitirmos que a escola seja protagonista desse descaso precisamos divulgar. Não podemos ser coadjuvantes de um problema gritante como esse. As escolas devem se adequar aos problemas de saúde pública e não ao contrário. Já estamos virando 2019 e ainda vemos situações humilhantes com nossos filhos. Isso sem contar no alto preço das mensalidades, uniformes e livros.

Exija, faça valer o direito de sua criança, não se deixe enganar por um discurso pronto e principalmente verifique de perto se a escola está "incluindo" ou "ganhando mais uma matrícula" em cima do seu filho e do seu bolso. Não se intimide e se for necessário peça auxílio jurídico, pois no Brasil, só quando se mexe na conta bancária do outro é que se vê algum resultado benéfico.

Como Psicopedagoga clínica e como mãe, o que mais faço é escutar os lamentos de pais que estão desesperados com o futuro escolar incerto de seus filhos.

Desejo que 2019 seja diferente para nossos anjos azuis, com mais respeito e mais dignidade.

Abraços azuis!

Loana Teixeira


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Autismo e Escola

Autismo e Escola

O tema de hoje é extremamente apropriado para a época: a volta às aulas.

A busca da escola ideal para uma criança autista é uma tarefa árdua e muitas vezes resulta em escolhas que, mais tarde, causam frustração em pais e professores.

A incidência de autismo, nos EUA, em 2006, era de 1 para cada 110 nascimentos, de acordo com o Center of Disease Control and Prevention. Em 2010, conforme pesquisa do governo dos EUA, os casos de autismo subiram para 1 em cada 68 crianças com 8 anos de idade.

O número tende a crescer ainda mais. Mesmo o autismo podendo ser detectado aos 2 anos de idade, a maioria dos casos só é detectada a partir dos 4 anos.

As maior parte das escolas não apresentam preparo técnico e emocional para receber crianças com autismo. Apesar dos número alarmantes, muitos profissionais da Educação não sabem explicar o que é o autismo e como lidar com as crianças portadoras desse transtorno.

O autismo afeta três áreas de suma importância no desenvolvimento da criança: comunicação, socialização e comportamento. Essas áreas são trabalhadas no ambiente escolar, exigindo do professor um conhecimento mais aprofundado do transtorno em questão.

Os autistas possuem uma sensibilidade sensorial fora do comum. Eles podem ter aversão a determinados alimentos simplesmente pela sua textura. Assim como determinadas roupas, dependendo do tecido, causam grande estresse na criança, se for obrigada a usa-la. Ao mesmo tempo que possuem tal sensibilidade sensorial, os autistas possuem uma aparente resistência à dor, manifestando choro ao se machucar somente em último caso.

Muitos confundem o autismo com crises de birra. Entretanto, quando uma criança autista entra em desorganização consigo mesma e com o ambiente, é necessário tranquiliza-la ao invés de critica-la e puni-la. Não significa que a criança deve fazer o que bem entende, mas ao seu lado ela necessita de um adulto que a compreenda e que lhe passe segurança. Se a comunicação e a socialização são as áreas mais afetadas no autismo, é evidente que ao se estressar e ao se desorganizar, a criança não saberá como fazê-lo e se manifestará de forma “socialmente inadequada”.

Seguem algumas características do autismo:

1.Dificuldade de relacionamento com outras crianças;
2.Riso inapropriado;
3.Pouco ou nenhum contato visual;
4.Aparente insensibilidade à dor;
5.Preferência pela solidão; modos arredios;
6.Rotação de objetos;
7.Inapropriada fixação em objetos (apalpá-los insistentemente, mordê-los);
8.Perceptível iteratividade ou extrema inatividade;
9.Ausência de resposta aos métodos normais de ensino;
10.Insistência em repetição, resistência em mudança de rotina;
11.Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo);
12.Procedimento com poses bizarras (fixar objetos ficando de cócoras; colocar-se de pé numa perna só; impedir a passagem por uma porta, somente liberando-a após tocar de uma determinada maneira os alisares…);
13.Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal);
14.Recusa colo ou afagos;
15.Age como se estivesse surdo;
16.Dificuldade em expressar necessidades (usa gesticular e apontar no lugar de palavras);
17. Acesso de raiva (demonstra extrema aflição sem razão aparente);

Vale a pena ressaltar que nem todos os autistas apresentarão todas as características mencionadas acima.

Os autistas costumam parecer alheios às situações de ensino-aprendizagem, mas muitas vezes eles estão ouvindo e prestando atenção de um jeito único. São auto didatas e possuem facilidade com o aprendizado de idiomas e informática.

È importante que a escola rompa as barreiras, pois quando você rotula, as pessoas não vão espontaneamente ajudar a romper tais barreiras; ao passo que, quando não se sabe que a criança é autista, há curiosidade para essa conquista.

O ingresso de uma criança autista em escola regular é um direito garantido por lei, como aponta o capítulo V da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que trata sobre a Educação Especial. 

O fato da escola receber uma criança autista é um desafio no cenário da Educação em nosso país, já que a escola atual não é feita para todos. Na inclusão, não é a criança que se adapta à escola, mas a escola que para recebê-la deve se transformar.

Entretanto, para que a escola possa desempenhar um bom papel, o trabalho deve ser multidisciplinar. A equipe que trabalha com a criança autista deve ser formada de professores, terapeutas e o médico responsável.
Os autistas possuem habilidades fantásticas, e é nelas que o profissional da Educação deve se pautar, deve investir.

Se você é pai/mãe de Autista, tem a importante missão de disseminar o tema Autismo nas escolas e na sociedade em geral. Geralmente os pais são os que mais possuem conhecimento sobre esse transtorno tão enigmático. Médicos, muitas vezes, não possuem preparo e informações suficientes, como a rotina de uma criança autista, a parte educacional e social. Já levei meu filho, hoje com 10 anos, a diversos pediatras que não tinham experiência com Autismo, mesmo com crescentes números de casos pelo Brasil e mundo afora.

Se você é profissional da Educação, saiba que você pode mudar o cenário atual em sua escola, conquistando esse aluno pelo simples fato de entender suas limitações, mas acima de tudo que ele é uma criança que merece o respeito como qualquer outra. Professor, você pode mudar a vida de muitas crianças, tenham elas autismo ou não! Pense nisso!

Abraços azuis!

Loana Teixeira

domingo, 18 de janeiro de 2015

Autismo e a alegria de ter um Pet!

Olá a todos!

Após alguns dias de 'descanso pós-festas', o Convívio Azul está de volta. E hoje falarei um pouquinho sobre a influência positiva de animais domésticos na vida dos nossos autistas.

De que forma um animal doméstico pode ajudar no desenvolvimento de uma criança? Seja um cão, ou um gato, papagaio, tartaruga, peixinho ou um coelho, qualquer bicho precisa de cuidados e de atenção. Quando a criança passa a ter contato com um pet, ela desenvolve o lado emocional, pois aprende a amar e receber carinho e companheirismo de volta. 

Os animais também sentem medo, alegrias, fome, frio, insegurança e ansiedade. Quanto mais cedo a criança puder perceber essas sensações nos bichos, mais cedo ela aprenderá a respeitá-los.

Fora a questão afetiva, a criança passa a adquirir mais autonomia nas funções diárias como banho, higiene, alimentação, vestimentas, pois ela passa a ter uma espécie de "treino" ao lidar com seu bichinho de estimação. Ainda que seja uma criança muito pequena, ao ver o adulto cuidando de um pet, ela aprenderá a cuidar também e terá estímulo para desenvolver tais habilidades.

No caso do autismo, além da criança ter a oportunidade de aprender tudo isso, os bichos são excelente companhia quando o autista estiver sentindo-se frustrado ou incompreendido pois o pet dá amor sem cobrar nada de volta. Ele se alegra se você estiver alegre e te compreende se você estiver triste. Ele não discute ou dá opinião. Simplesmente te ama e te é fiel.

Existem casos em que crianças autistas com severo atraso de linguagem começaram a se comunicar melhor após a chegada de um pet em sua casa, Isso não ocorre da noite para o dia, é um processo, como tudo na vida.

Os cães são sempre mais indicados por serem mais receptivos e também mais pacientes. São animais que se adaptam facilmente a qualquer espaço físico, desde que tenham carinho. Ele passa então a ser um grande amigo, um confidente, um brinquedo, um espelho, um defensor e tudo mais que a imaginação infantil permitir.
Cães podem resgatar a auto-estima das pessoas, bem como confiança e sociabilidade. Preenchem carências psicossociais de pessoas de qualquer idade.



Entretanto é importante salientar que um pet nunca deve ser adquirido por impulso. O ideal é que a família converse sobre o assunto antes e escolha um bichinho que seja compatível com seu espaço físico, situação financeira e rotina da família.  No caso de cães existem raças mais tranquilas que outras para crianças com autismo. Vale a pena escolher com calma para depois não haver frustrações, pois o abandono é uma crueldade muito grande e certamente um mau exemplo.

Abraços azuis!

Loana Teixeira
Convívio Azul

sábado, 27 de dezembro de 2014

Autismo & Festas - será que combina?

Olá a todos!


Na postagem de hoje falarei um pouquinho sobre autismo  X  festas. 

Cada caso de autismo é um universo diferente. Não apenas por existirem diversos níveis nesse transtorno, mas por cada autista ser único!
Sabemos que muitos autistas se atrapalham e se desorganizam frente a locais muito cheios e barulhentos. Outros nem tanto. Mas por que será que acontece isso? Por que um ambiente pode tornar-se insuportável para um autista?

Costumo chamar de 'sobrecarga sensorial' quando um autista fica exposto em um ambiente ou situação que requer o uso extremo dos sentidos por parte dele. Ou seja, se em uma festa, ou casamento, por exemplo, o som estiver alto, o salão estiver cheio, cheiros de comida misturados, perfumes de pessoas, risadas, rostos estranhos, luzes, comida diferente, roupa apertada ou de tecido áspero. Todos esses exemplos mencionados envolvem os 5 sentidos: visão, audição, paladar, tato e olfato.
Numa festa, há um conjunto de informações sensoriais, onde o indivíduo precisa dar conta delas para compreender o contexto da situação em que se encontra. O que ocorre em alguns autistas é que a percepção sensorial é intensificada, gerando a sobrecarga. Em outros casos pode haver a falta da percepção, fazendo com que aquele ambiente, aquela festa, não seja compreendido ou interpretado corretamente.

Vou mostrar dois casos reais, de famílias com autistas que conheci.

Dudu estava completando 8 anos. Progredira na escola naquele ano, graças ao acompanhamento diário de sua nova mediadora escolar. Estava mais sociável, confiante. Dudu não verbaliza. Falou até os dois anos e meio e da noite para o dia parou. Entretanto comunica-se por meio de gestos, desenhos, expressões faciais. Dudu adorava ir a festas onde tinha algum local para que pudesse correr. Além disso gostava de salgadinhos e bolo de aniversário.
Seus pais decidiram então fazer uma festa de aniversário para ele no salão de festas do próprio prédio. Convidaram toda a família e alguns amigos. O tema do aniversário foi o time do Flamengo. Dudu conhecia bem o uniforme do time de coração de sua família, até já foi ao Maracanã! Copos, guardanapos, balões, bolo, tudo do flamengo. Mas, na hora de cantar o "parabéns pra você" a mãe solicitou que ninguém batesse palmas. O barulho das palmas colocaria tudo a perder. Dudu se desorganizaria e a festa não seria mais a mesma. Ele não suporta esse barulho. Todos compreenderam e cantaram a música do parabéns sem o acompanhamento das palmas. A festa do Dudu foi um sucesso!

Esse é o caso de um menino autista não verbal, que aceita sabores diferentes, locais com pessoas de rostos e vozes conhecidas, que teve sua festa no mesmo edifício onde mora. Seus pais fizeram tudo de uma forma que não o colocasse em sobrecarga sensorial, fizeram tudo de uma forma que ele pudesse não só suportar sua própria festa, mas também curtir esse momento.

O segundo caso

Dani tinha 10 anos e adorava Papai Noel. Na noite de natal do ano passado, a família combinou com um tio que ele se vestiria de bom velhinho e entregaria os presentes para as crianças. Dani não curtia muito festas em sua casa. Preferia as coisas organizadas e em silêncio por lá.
Quando a festa era na casa de outra pessoa ela gostava pois podia explorar lugares e objetos novos. Um amor de menina, super curiosa! Muito comunicativa. A fala tinha um comprometimento nas articulações, mas ela se fazia entender na maioria das vezes.
Mas quando se tratava de festa de Natal ela aceitava tranquilamente que fosse em sua casa, pois os convidados eram todos conhecidos e os presentes ficavam rodeando a árvore de Natal - ela sempre foi fascinada pela árvore e suas luzes.
Pouco depois da meia noite o Papai Noel chegou. Ela nunca havia visto o bom velhinho dentro de sua casa, apenas nos shoppings e supermercados, ou na tv. Dani ficou perplexa! E correu para seu quarto. Ficou caminhando na ponta dos pés de um lado para o outro. Seu pai foi até ela e lhe perguntou: "filha, você não está gostando da festa? Não gostou do Papai Noel?" E ela prontamente lhe respondeu: "Eu estou adorando pai! Só preciso ficar aqui no meu quarto um pouquinho!"

Nesse caso Dani precisou se isolar para fazer uma interpretação daquela ocasião. Informação sensorial muito intensificada a deixou confusa e ela foi processar a informação em seu quarto. 


E por falar em Natal...

Estamos no meio das festas de fim de ano! Presenciaremos diversas situações de autistas curtindo ou não gostando de ambientes com informações sensoriais sobrecarregadas. O importante é procurar tranquilizar o autista e oferecer-lhe um ambiente mais próximo de sua "normalidade", alterando o mínimo possível sua realidade, sua rotina de horários, entre outras.
No reveillón existe queima de fogos e isso pode desorientar e desorganizar algumas pessoas com autismo. Já outras podem achar fantástico e ficar observando as cores e os sons dos fogos lá no céu.


Boas Festas e um feliz 2015!
Abraços azuis!

Loana Teixeira
Convívio Azul



quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Férias & Autismo - a quebra da rotina

Bom dia a todos!

A postagem de hoje falará um pouquinho sobre a chegada das férias suas implicações na vida de nossos pequenos.

Para a grande maioria, as férias são aguardadas com grandes expectativas, planos e objetivos, como o de viajar, ou simplesmente descansar o corpo, dormir até mais tarde todos os dias, libertar-se de horários fixos para comer, dormir, estudar e trabalhar.

O que acontece é que com a chegada das férias e a quebra da rotina, os autistas se desorganizam de tal forma, que o período que poderia ser de descanso e tranquilidade pode transformar-se num caos desenfreado.
Autistas possuem uma grande necessidade de fixar-se à rotinas, horários e procedimentos. Tendem executar tarefas numa certa ordem. Se a família do autista modificar isso da noite para o dia, em função de férias, ou de qualquer outro acontecimento, ele não compreenderá e se desorganizará, gerando muito estresse para esse autista e para todo o ambiente familiar.
Quando se tem um autista em casa, a rotina de todos também muda. Existem muitas situações que dependem de outras para acontecer, como festas, visitas, reforma na casa, barulhos. Quem mora com um autista sabe que eventos cotidianos de uma pessoa qualquer não se aplicam a esta família azul.

Ok, então o que se deve fazer para tentar amenizar a quebra da rotina, para que ela não atrapalhe tanto o funcionamento de um autista?

A primeira iniciativa é a de conversar. Explique a ele que as férias estão chegando. Tenha sempre calendários ou agendas por perto, pois muitos autistas sentem-se seguros com a marcação da passagem do tempo. Ao visualizar os dias da semana e do mês, eles podem adaptar essas informações ao cérebro e fazer uma programação mental mais adequada.

Não mude a rotina da casa e seus hábitos rapidamente. As mudanças devem ser feitas de maneira gradual, para que não haja um choque por parte do autista. Horários para dormir e acordar, para refeições, para a medicação, devem ser mantidos no começo. As alterações podem vir aos poucos, com exceção da medicação, que deve ser ministrada no horário correto sempre.

Mostre ao autista que férias são sinônimo de alegria, passeios, festas de fim de ano, guloseimas, brincadeiras e entretenimento. Procure fazer uma programação e mostrar a ele, seja por meio de desenhos ou tabelas, enumerando sempre as atividades. Por exemplo, ao acordar, montar um quadro com as atividades que serão executadas hoje, marcando do número 1 ao 10:

1- acordar
2- piscina
3- almoçar
4- vídeo-game
5- visitar o primo
6- lanche
7- andar de bicicleta
8- tomar banho
9- jantar
10-dormir

Lembrando que este é apenas um pequeno exemplo. Tudo vai depender do grau de compreensão do autista. O planejamento não precisa necessariamente ter 10 atividades, podem conter menos, ou até mais e não precisam ser por escrito, já que alguns autistas não são alfabetizados, mas podem compreender a tabela por meio de desenhos.

É muito importante que os autistas sejam previamente avisados do que vai acontecer durante as férias. Um autista desorganizado e frustrado pode atrapalhar e muito uma viagem ou um evento, tornando o que poderia ser um momento maravilhoso e prazeroso em família, um verdadeiro caos.

Muitos autistas se apegam a determinados objetos e tendem a fazer todas as atividades de seu dia com o objeto perto. Não o separe desse objeto nas férias, procure um espaço na mala ou na bolsa para levá-lo. Dessa forma ele se sentirá mais seguro quando estiver com pessoas novas ou em locais novos.

E por falar em locais novos, as férias podem proporcionar ao autista momentos de descontração e de conhecer novos espaços como parques, zoológicos, museus, praias. Lembrando que alguns autistas não toleram locais muito cheios, e principalmente barulhentos, pois eles têm percepções sensoriais extremamente aguçadas. Se houver multidões e barulhos fortes, o autista pode se atrapalhar ao fazer a leitura daquela situação e colocar o passeio a perder. Portanto escolha locais calmos e dê preferência a visitá-los em horários mais tranquilos. Mas não deixe de apresentar-lhe um local novo que tenha coisas interessantes de se ver, pois estas novas experiências enriquecem o desenvolvimento dos autistas.

Estas foram pequenas dicas sobre como proceder nas férias quando se tem um autista em casa. Independente da idade ou do grau de comprometimento, é importante considerar que eles precisarão de orientação nesta época do ano!




Espero ter ajudado, um grande abraço e boas férias!

Loana Teixeira
Convívio Azul



sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O que significa "incluir" no ambiente escolar?

Olá a todos!

Achei bem interessante abordar este tema, principalmente pela época do ano que estamos. Mês de dezembro, período letivo nas escolas em fase de encerramento e matrículas para o próximo período letivo a todo vapor! Se para muitos pais de crianças sem qualquer tipo de transtorno isso é uma tarefa difícil, imaginem para pais de autistas...

São muitos fatores a serem considerados. A maioria preocupa-se com localização, infra estrutura da escola e preço, mas fatores como metodologia de ensino não passam e nem devem passar desapercebidos. Existem escolas que priorizam o ensino de idiomas, outras o preparatório para o vestibular, já outras são inclinadas ao construtivismo e muitas outras tradicionalistas. Independente da linha a ser seguida, as escolas sempre vacilam na mesma questão: o que significa incluir?

No discurso, as escolas mostram-se sempre dispostas a atender a criança com necessidades especiais pelo fato de isto já ser uma obrigação  legal. Entretanto a lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e altera o parágrafo 3° do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Entende-se como uma norma jurídica que explica como aplicar uma lei já em vigor, e que não pode ser contrariada. Sua criação é prerrogativa do Poder Executivo. 

Mesmo após o sancionamento da Presidente da República em 2012, diversos casos de escolas negando ou dificultando a vaga à autistas vieram à tona através da mídia. Gostaria de pedir, através deste espaço, que não deixem de denunciar escolas que venham a infringir esta lei, pois muitas tendem a enganar os pais alegando falta de pessoal, turmas lotadas, etc. A escola tem o DEVER de matricular qualquer criança e a partir do momento que essa matrícula se consolida, cabe à escola providenciar espaço adequado e profissionais capacitados.

Mas ainda não chegamos na parte da inclusão! Até agora falamos somente em seguir a legislação. Incluir não é obedecer a lei para não sofrer sanções. Incluir é um ato de amor (não confundir com caridade), é o ato de acolher a todos, sem exceção, independente de raça, classe social, condições físicas e psicológicas. É o ato de perceber que somos todos iguais e diferentes ao mesmo tempo e que devemos respeitar estas diferenças. Se pararmos para pensar, não deveria sequer existir lei de amparo ao Autista, pois a criança deve ser aceita e respeitada dentro do sistema de ensino, bem como na sociedade. Deveria ser algo latente do ser humano, o de sempre procurar proteger os indefesos.

Portanto, a escola não deve ocupar apenas o papel de educação assistencialista. Levar ao banheiro, ajudar a organizar o material didático, arrumar o lanchinho e só. É isso que muitas escolas fazem. Na hora do envolvimento com as tarefas pedagógicas e mesmo com as extra-curriculares, isolam o autista, uma vez que ele "atrapalha" o desenvolvimento do grupo. E assim a escola colabora cada vez mais para o atraso no desenvolvimento desta criança e para a diferenciação desta com os demais. Não preciso nem mencionar aqui, neste momento, que muitas escolas não percebem onde se inicia o bullying e depois que percebem não conseguem acabar com ele.

Pais, mães, avós, cuidadores de autistas em geral, não aceitem essas condições! Lutem para que seu autista tenha tratamento adequado no ambiente escolar! Escola não deve fazer favores. Escola tem que trabalhar junto às famílias e aos profissionais que assistem tais casos, procurando as melhores condições para o desenvolvimento de todos os alunos envolvidos nesse processo. A Escola recebe pra isso e coloca-se na posição humanitária que deve estar. Se a escola for pública, está recebendo verba do governo para que funcione. Se não estiver dentro dos parâmetros, denuncie.

Costumo dizer que criamos e educamos nossos filhos com amor e com todo o instinto presente dentro de nós. Mas, ao lidarmos com crianças no campo profissional, além de amor e instinto, devemos impor a ética e o respeito acima de tudo. Aquele que busca trabalhar com crianças, seja em escolas, hospitais, parques ou mesmo lojas de brinquedos, deve ser habilitado para tal função. Deve estar aberto à doçura, à ingenuidade, aos medos e receios, às dúvidas e anseios de todas as crianças que passarem pelo seu caminho. 



Então mãos à obra na busca de uma escola que respeite e que não pratique a falsa inclusão. Muita paciência será necessária! Procure cercar-se de pessoas que conheçam mais deste assunto e que possam indicar instituições adequadas, sejam escolas regulares ou especiais.


Um fim de semana azul para todos!
Abraços!

Loana Teixeira
Convívio Azul


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Depois do diagnóstico - uma nova realidade

Olá a todos!

A postagem de hoje é a continuação da publicação do dia 11/11. O que fazer após o diagnóstico de autismo? Será o diagnóstico uma sentença de vida? Haverá preparo para lidar com esta nova situação?

Bem, pra começar não devemos nos referir ao Autismo como uma 'sentença'. Apesar de diversas dificuldades que surgirão no caminho, nós podemos aprender bastante com pessoas que têm esse transtorno. É um desafio diário, mas com muitas compensações.

Os autistas são 'literais', ou seja, tudo para eles é ao pé da letra. Se você disser que está chovendo canivetes eles realmente pensarão que estes objetos estão caindo do céu! Por esse ângulo, o Autismo é prático, em minha opinião, porque torna tudo mais simples, sem rodeios, sem indiretas, sem ironias. Eles são objetivos e vão direto ao ponto.

Outra característica do autista é que dificilmente ele mentirá para você. Os sentimentos do autista são autênticos, ou seja, se ele gosta, ele gosta muito e vai demonstrar isso! Não haverá fingimentos. O mesmo ocorrerá se ele não gostar de alguém ou de alguma coisa.

Mas, voltando ao pós-diagnóstico, as primeiras semanas podem ser chocantes e de muitas dúvidas e angústias. Mas é hora de reagir e dar a volta por cima. Ver tudo que pode ser feito para que a criança tenha qualidade de vida e possa ser entendida em seu mundo e ao mesmo tempo trazida para o nosso mundo. Eu, particularmente não gosto de mencionar que autistas têm um mundo e nós temos outro. O mundo é um só. O que muda é o funcionamento cerebral, a forma como as pessoas com autismo enxergam esse mundo.

Você já ouviu falar em plasticidade cerebral?
É a capacidade que o cérebro tem de se adaptar à condições ambientais, experiências e estímulos. Todos nós temos e com os autistas não poderia ser diferente. Graças a plasticidade cerebral, podemos estimular, ensinar e motivar pessoas com transtornos de desenvolvimento, já que ela está em constante atividade, reformulando o cérebro a cada momento.

Por isso, precisamos acreditar antes de mais nada, que o autista é capaz sim de se desenvolver, cada qual dentro de suas possibilidades. Os autistas nos surpreendem a cada dia com suas capacidades. Logo, não os substime, pois eles são mais inteligentes do que imaginamos. E podem ir muito além de nossas expectativas.

Não há receita, mas minha sugestão é lidar com o Autismo com amor, dedicação, paciência e terapia, seja ela psicopedagógica, fonoaudiológica, ocupacional, equína, comportamental, ou atividades físicas. Aliás, é importante ver junto com o médico que atende o autista quais terapias seriam indicadas para ele e para o bolso da família.

E quanto a você, cuidador, pai, responsável por uma criança ou adulto autista, não hesite em procurar ajuda. Seja numa conversa informal, ou durante uma consulta ou mesmo buscando ajuda em terapia para si mesmo. Para que o autista esteja bem, é necessário em primeiro lugar que você fique bem.

Abraços azuis!

Loana Teixeira
Convívio Azul