sábado, 27 de dezembro de 2014

Autismo & Festas - será que combina?

Olá a todos!


Na postagem de hoje falarei um pouquinho sobre autismo  X  festas. 

Cada caso de autismo é um universo diferente. Não apenas por existirem diversos níveis nesse transtorno, mas por cada autista ser único!
Sabemos que muitos autistas se atrapalham e se desorganizam frente a locais muito cheios e barulhentos. Outros nem tanto. Mas por que será que acontece isso? Por que um ambiente pode tornar-se insuportável para um autista?

Costumo chamar de 'sobrecarga sensorial' quando um autista fica exposto em um ambiente ou situação que requer o uso extremo dos sentidos por parte dele. Ou seja, se em uma festa, ou casamento, por exemplo, o som estiver alto, o salão estiver cheio, cheiros de comida misturados, perfumes de pessoas, risadas, rostos estranhos, luzes, comida diferente, roupa apertada ou de tecido áspero. Todos esses exemplos mencionados envolvem os 5 sentidos: visão, audição, paladar, tato e olfato.
Numa festa, há um conjunto de informações sensoriais, onde o indivíduo precisa dar conta delas para compreender o contexto da situação em que se encontra. O que ocorre em alguns autistas é que a percepção sensorial é intensificada, gerando a sobrecarga. Em outros casos pode haver a falta da percepção, fazendo com que aquele ambiente, aquela festa, não seja compreendido ou interpretado corretamente.

Vou mostrar dois casos reais, de famílias com autistas que conheci.

Dudu estava completando 8 anos. Progredira na escola naquele ano, graças ao acompanhamento diário de sua nova mediadora escolar. Estava mais sociável, confiante. Dudu não verbaliza. Falou até os dois anos e meio e da noite para o dia parou. Entretanto comunica-se por meio de gestos, desenhos, expressões faciais. Dudu adorava ir a festas onde tinha algum local para que pudesse correr. Além disso gostava de salgadinhos e bolo de aniversário.
Seus pais decidiram então fazer uma festa de aniversário para ele no salão de festas do próprio prédio. Convidaram toda a família e alguns amigos. O tema do aniversário foi o time do Flamengo. Dudu conhecia bem o uniforme do time de coração de sua família, até já foi ao Maracanã! Copos, guardanapos, balões, bolo, tudo do flamengo. Mas, na hora de cantar o "parabéns pra você" a mãe solicitou que ninguém batesse palmas. O barulho das palmas colocaria tudo a perder. Dudu se desorganizaria e a festa não seria mais a mesma. Ele não suporta esse barulho. Todos compreenderam e cantaram a música do parabéns sem o acompanhamento das palmas. A festa do Dudu foi um sucesso!

Esse é o caso de um menino autista não verbal, que aceita sabores diferentes, locais com pessoas de rostos e vozes conhecidas, que teve sua festa no mesmo edifício onde mora. Seus pais fizeram tudo de uma forma que não o colocasse em sobrecarga sensorial, fizeram tudo de uma forma que ele pudesse não só suportar sua própria festa, mas também curtir esse momento.

O segundo caso

Dani tinha 10 anos e adorava Papai Noel. Na noite de natal do ano passado, a família combinou com um tio que ele se vestiria de bom velhinho e entregaria os presentes para as crianças. Dani não curtia muito festas em sua casa. Preferia as coisas organizadas e em silêncio por lá.
Quando a festa era na casa de outra pessoa ela gostava pois podia explorar lugares e objetos novos. Um amor de menina, super curiosa! Muito comunicativa. A fala tinha um comprometimento nas articulações, mas ela se fazia entender na maioria das vezes.
Mas quando se tratava de festa de Natal ela aceitava tranquilamente que fosse em sua casa, pois os convidados eram todos conhecidos e os presentes ficavam rodeando a árvore de Natal - ela sempre foi fascinada pela árvore e suas luzes.
Pouco depois da meia noite o Papai Noel chegou. Ela nunca havia visto o bom velhinho dentro de sua casa, apenas nos shoppings e supermercados, ou na tv. Dani ficou perplexa! E correu para seu quarto. Ficou caminhando na ponta dos pés de um lado para o outro. Seu pai foi até ela e lhe perguntou: "filha, você não está gostando da festa? Não gostou do Papai Noel?" E ela prontamente lhe respondeu: "Eu estou adorando pai! Só preciso ficar aqui no meu quarto um pouquinho!"

Nesse caso Dani precisou se isolar para fazer uma interpretação daquela ocasião. Informação sensorial muito intensificada a deixou confusa e ela foi processar a informação em seu quarto. 


E por falar em Natal...

Estamos no meio das festas de fim de ano! Presenciaremos diversas situações de autistas curtindo ou não gostando de ambientes com informações sensoriais sobrecarregadas. O importante é procurar tranquilizar o autista e oferecer-lhe um ambiente mais próximo de sua "normalidade", alterando o mínimo possível sua realidade, sua rotina de horários, entre outras.
No reveillón existe queima de fogos e isso pode desorientar e desorganizar algumas pessoas com autismo. Já outras podem achar fantástico e ficar observando as cores e os sons dos fogos lá no céu.


Boas Festas e um feliz 2015!
Abraços azuis!

Loana Teixeira
Convívio Azul



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